TODAS ESSAS HISTÓRIAS SÃO REAIS

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quinta-feira, 15 de março de 2007

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terça-feira, 13 de março de 2007

Juventude


>>Eu corria em direção à esquina na parte mais alta da minha rua. Com o skate na mão, ia à procura do ponto perfeito para começar a descida. Estava ouvindo Gang of Four no meu ipod shufle e aquele instante trazia, junto com o vento que secava meu rosto, uma leveza de viver que a muito não sentia. Estava moleque como um skatista irresponsável e aventureiro, é: bermudão oversize abaixo do joelho, tênis Nike SB Paul Rodrigues sujos, camiseta largadona, meu velho e fedido bone Billabong, pele brilhante de suor e um sorriso que é só meu, e de tão espontâneo, sem subterfúgios.

Um carro descia a rua e parei, esperando-o passar. Do seu carro flex popular, ao me ver, tomou um susto. Era ele, finalmente! Não tremi e nem tampouco alterei a respiração. O sangue continuo no mesmo ritmo. Voltei a correr em direção à esquina. Com o pé direito bem firme sobre a prancha, embalei e desci cada vez mais rápido.

A primeira vez q nos encontramos na internet ele era casado com uma modelo da Ford Models que passava uns dias no Rio de Janeiro à trabalho. Conversamos horas sem fim naquela madrugada. Depois nos falamos ao telefone. Sem alterações, sua voz parecia soar sem esforços, verdadeira. Gamei. A segunda vez que nos cruzamos, meses depois na internet, eu lhe disse sem vascilar: minha vida é te esperar. Ele riu. A terceira vez que o encontrei foi na vida real mesmo por acaso e ele não era casado com modelo da Ford Models porra nenhuma. Era veado mesmo. Da quarta vez que nos encontramos, ele estava de bruços sobre a cama. Beijei seus pés, seu cu, suas costas, sua nuca, parei e sussurrei quase para mim mesmo: você é a maior loucura da minha vida. Nos encontramos mais vezes. Nos prometemos envelhecer juntos, mesmo nossa diferença de idade sendo tanta.

Com a mesma intensidade que entrou na minha vida, saiu. Explicou-me num sms medroso, de bicha velha irresponsável: dias de trovões. Meses depois voltou a me procurar, da forma que sempre lhe pareceu mais segura: via internet. Me pediu desculpas, depois de usar o seu costumeiro marquetingue da culpa, o qual me fazia cair muito bem. Da última vez disse-me pessoalmente: sou como um dragão que precisa viver sozinho no topo de uma montanha. Piegas, era mais uma de suas mentiras, coisa de vendedor de químicos acostumado a lidar com criaturas rudes, que manipulam máquinas e indústrias e vende cada líquido como um elixir milagroso. Vendedor, até embaixo de lençois.

Assim lhe perdoei tantas vezes. Preso a algo que eu mesmo inventei e ele, muito esperto, deu forma. Até que um dia com os punhos cheio de coragem lhe passei um e-mail antes que ele fugisse pela quinta vez. Disse-lhe que honestidade não tinha a ver com idade, mas com o que se quer. Disse-lhe também que não existia dragão nenhum, mas um grande filho da puta egoísta e de personalidade fronteiriça. Um solitário incapaz de se revelar. Que o seu sexo tinha a potência de uma ervilha e que sua masculinidade não estava no cerne, e acredito mesmo, somente estar na casca da casca.

Quando ele, revoltado, deixou à minha porta em pedacinhos todos os presentes que eu lhe dei me bateu uma tristeza esmagadora. Daquelas que nos curvamos quando sentimos uma dor de barriga miserável. Mas não era uma tristeza por ter tido aquele desfecho em farelos de vidros e restos de papel. Era uma tristeza pura, quase sem motivos, tristeza sem sentido. Eu nao pensava em nada.

Ao chegar ao fim da rua, fiz a curva. Pisei na ponta da prancha para pegar o skate no ar. Exagerei na força e perdi a chance. O skate foi ao chão. Tentei mais uma vez, não consegui. Mas antes de tentar a terceira vez, lembrei do que tinha acabado de me acontecer: meu Deus, eu sou muito jovem!

terça-feira, 6 de março de 2007

Fora do meio? É marginal!


>>Fiquei sabendo que o Brasil tem aproximadamente 15 milhões de internautas. Levando em conta que 10 por cento da população mundial é gay segundo o IBGE, levando em conta que gay é muito mais atenado e plugado na internet do que outras classes, suponho que temos mais de 1,5 milhões de viados em plena atuação náutica virtual. Logo, as chances de você achar o que quer nos chats e nos sites de pegação, deveriam ser bem grandes.

Pois, não é que eu achei um garotão, ativo e fora do meio de 24 anos. Com jeito e voz de macho. Ufa!

Quando ele entrou no meu ap eu quase não consegui disfarçar o susto e lembrei que tinha deixado minha câmera digital caríssima visível no quarto. Ele era tão macho que beirava um marginal. Jeans sujo de homem relaxado, sapatos de camurça absorventes de chulé, um boné barato, olhos de índio e pele brasileira. Lindo! Uma espécie de macho jovem e rude, todo contido, com uma voz máscula e lenta. O metro de distância que mativemos à principio, por segurança entre nós, não me poupava do seu cheiro seco de pele e roupas usadas ha dias.

Quando ele me viu indo à janela para que lhe explicasse o que seria o "brise-soleil" do prédio ele veio atrás em passos firmes e me deu uma pegada bem nervosa, meio tensa e trêmula. Ao me virar desajeitadamente, me senti agredido. Não tenho cintura, cara! Quase falei. Sou macho demais para que outro me vire pela cintura. Não pode existir essa coreografia entre dois machos, pensei. Vai contra os códigos dos machos gays fora do meio. E como éramos, previamente estipulado, dois desses tipos, ele sem saber estava tentando destruir a minha autoridade. Mas, como foi um ímpeto provocado por sua insegurança, abstraí e deixei que me desse à volta completa com o braço.

Mas, o beijo veio com halitose e gosto de dentes mal tratados. Uma boca quente e seca que se abria demais, tocando a parte inferior do meu nariz. Respirei fundo e prendi um pouco a minha respiração. Algo se retraiu em mim. Mas, para um garoto daquela altura, lembrei que o pau poderia valer à pena todo o sacrifício respiratório. E nada que um bom drinque não resolvesse. O problema foi que ele não aceitou o drinque! Apenas uma água. Menos mal, a água refrescou um pouco e deixou sua boca mais úmida.

No quarto, ele tirou a roupa e ficou de meias soquetes brancas. O garotão lindo e marginal, virou patético e sujo. Não tinha o pau tão bom e seus pêlos eram muitos e se espalhavam pelas laterais, descendos pelas coxas. Era tão fora do meio que, não sabia ainda que, por mais fora do meio que voce seja, é preciso, mais do que tudo, uma boa aparência íntima.

Já desiludido, agi por compaixão. Desliguei o botão dos critérios higiênicos e estéticos e senti uma ligeira empolgação quando ele chupou minha bunda (chupava bem!) e pediu para me comer lambendo a boca, como quem tirava um pêlo dos dentes. Do nada, numa velocidade que até eu mesmo fui incapaz de perceber, surgiu uma camisinha na minha mão.

Ele tentou enfiar, porém era desastrado. Foram três tentativas frustradas. Decidido, virei e sentei nele. Tive uma sensação estranha. Havia entrado algo dentro de mim ali que não era um pau. Não era nem grande nem pequeno. E eu, olhando aqueles olhos pequenos assustados e inseguros, procurei sentir se vinha dele mesmo o que entrara em mim. Fiquei alguns segundos ali. Pedi meio mal humorado que ele ficasse quieto. Tentei senti meu corpo, algum certo prazer, mexi um pouco e nada. Apenas o objeto estranho ainda estava lá. Tentei beijá-lo para saber se o objeto tinha alguma conexão com outro tipo de carinho, algo mais afetuoso, e nada! Até que desisti e virei para o lado. Triste, provei finalemente para mim mesmo que um pau, às vezes, toma uma forma desconhecida, dura e sem vida. Quase como aqueles objetos que um dia tentamos enfiar em nós e depois nos sentimos mal e culpados.
Ele queria gozar e foi embora emburrado e desapontado feito um garoto de 24 anos quando desiste de sua mina inflexível.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Cavalos e seres anódinos

>>Ele era gerente da Armani e me recebeu como tal. Era tão inexpressivo com aquela polo listrada, propositalmente ajustada ao bíceps que pareceu que ia me levar até um escritório e não a uma sala de estar. Seria uma tarefa árdua, então. Ia ter que falar demais para que não acontecesse momentos de silêncio constrangedores, ja que saquei que, daquele ali, nada sairia.

O que se espera de um gerente da Armani? Quando ele me revelou a profissão eu tive uma verdadeira surpresa e procurei nele quais critérios encontraram para que gerenciasse uma casa tão sofisticada. Talvez justamente a aparência bonita e seu jeito anódino que confudia-se com discrição. O seu apartamento de quarenta metros quadrados era de um mau gosto impressionante. Como alguém ainda hoje coloca um vaso vazio no meio do nada e reveste de madeira, todas as suas poucas paredes, e de espelhos, todas as suas portas? Eu me lembrei de quando passiei a primeira e unica vez de veleiro no nordeste. E as esculturas de cavalos em madeira que ornamentavam a cabeceira de sua cama, me lembravam um escritório de jóquei.

Aquele homem era lindo, e de braços cruzados sentado na cama, entretia-se entre a minissérie da tv e minha tagarelisse sem pausas. Eu via que ele prestava atenção nas coisas que eu falava, e como o vi solitário, entendi que o que lhe interessou mais em mim foi justamente a capacidade de falar sobre quase tudo e nao a minha aparência. Comecei falando de internet, sobre o que é virtual, inveredei por paisagismo e arquitetura, já que ele me disse que se interessava por plantas e projetos arquitetônicos. Me referi aos cavalos de madeira e elogiei a decoração, dizendo que ele conseguiu algo quase impossível com muito bom gosto: misturar, num ambiente só, motivos náuticos com motivos equestres. Uma mentira deslavada! E fiquei espantado com minha capacidade de mentir. Eu sou impressionante mentindo. Até a mim mesmo, eu convenço. Por um breve instante, me vi realmente achando o ambiente agradável.

Minha boca estava seca e então lhe pedi uma água. Ele foi até a cozinha minúscula e me trouxe um copo. Sentou mais perto de mim desta vez e então se espreguiçou deitando na cama. Isso pareceu, diante de tanta tensão sexual, convenhamos, um sinal verde. Aí criei uma coragem repetina e fui até ele. Qdo encostei meus lábios no dele senti um hálido insosso dizendo-me um “acho melhor não”. Então eu revidei e ele fitou meu volume na calça. Eu já estava cansado demais. Tinha passado as últimas duas horas ali num monólogo exaustivo e desgraçado. Queria ir embora, mas a sacada dele no meu pau me deu a ousadia de tentar mais uma vez. Me veio outro “acho melhor não”. Então, desisti e ele me vendo assim já com um nem aí nos ombros, me pediu desculpas. Não se pede desculpas por isso, ensinei-lhe. É de muito mau gosto, pedir desculpas por rejeitar alguém, continuei. Estávamos aqui tentando. Qualquer foda começa numa tentativa, eu continuava a lhe falar, já pronto para abandonar o barco de motivos equestres. E quando ele insistiu mais ainda nas desculpas se tornou ainda mais patético e apático, um ser sem vida, sem expressão, quase triste, forte porém lento, com seus passos de chinelos Armani, de um ser envelhecido, ao me acompanhar à porta.

Voltei para casa a pé. Cansado e feliz por ter acabado. Minha garganta ardia um pouco e minha auto-estima estava mais forte do que nunca. Há efeitos dolorosos ao ser rejeitados por homens bonitos, pensei. Porém quando se tem a capacidade de entender que beleza faz parte de um conjunto de coisas, uma conexão perfeita entre físico, expressão e idéias, a rejeição causada por um esteta de muito mau gosto torna-se pequena e frágil. Sendo aniquilada rapidamente pela percepção de outro tipo de estética, à que está a sua volta, a que define seu espaço físico e que indica, mesmo que não haja diálogo, o que o outro realmente é. Assim como cavalos de madeira não fazem sentido para alguém que nunca fez polo-equestre, pessoas anódinas não fazem sentido algum a pessoas que são extremamente apaixonadas por expressividade e inteligência.